Estar à margem é estar dentro. Mas pelas beiradas, num ritmo diferente.
É, dentre tocos de madeira, pedras e lodo,
Beber da água da razão,
mas alimentar-se de fantasia.
.
Estar à margem é estar dentro, mas sempre do outro lado -
Olhar de fora para quem não está.
Mover-se na ilusão de parar.
Ilusão esclarecida, talvez,
Um auto-iludir-se, se for,
Mas nunca enganar.
.
Porque estar à margem é ser alvo
e nem ligar.
É refratar.
É fogo-fátuo.
É, sobretudo, negar.
Afundar a cabeça, molhar os cabelos.
Fingir por alguns segundos ter visto a Vida, afinal,
até ter que voltar, respirar.
.
Estar à margem é conquista, não fim.
É estado de urgência; tomada de fôlego.
Saudade daquilo que se sonha quando acorda.
Ou sequer despertar.
.
É ter abismos em si
e mergulhar.
É se assustar.
É ainda guardar o dom pecaminoso,
Mal-falado, nefasto, aterrador,…
O ingênuo e humano dom
Da estranheza,
Do estranhar-se.
O fardo de se espantar.
.
É, enfim, mas não por fim,
ter no não-lugar da busca
seu único e derradeiro lar.