Paisagens de um sonho que se repete

Lá estão os pássaros bailarinos
Lá estão
Dançam como intrépidos bêbados
À procura de algo que desconheço.

Lá estão, também, ao fundo,
As nuvens pobres e rosas,
As fumaças estáticas e constantes.
Lá estão

Lá estão as personagens do sonho que se repete
E os vestidos das noivas desnudas.
As noivas… Sim, as donzelas prometidas
Também chegam. Todas nuas. Nuas e puras.
Lá estão
Lá estão a vergonha e a libido.

À porta a jovem senhora espera notícia
O guri nada diz.
Aperta o chapéu já amarrotado,
Franze os pequenos lábios calados
E deixa à vista uma fresta de olhar.
Nada de noticia. Nenhuma nova.
Lá estão
Lá estão o silêncio e a ansiedade.

Lá estão os bares, os cafés e as ruas.
Estão também as rugas tuas,
Meu violão e um porta-retrato.

Lá estão os carros parados,
Os anos 80 e Bette Davis eyes

Lá estão
 Paris, Cairo e Coimbra,
O castelo por trás da neblina,
A tempestade e o trovão.
Lá estão

Lá estão teus seios alvos,
Tua pele sempre quente e o meu colchão.
Lá estão o frio, o Pampa e o chimarrão.
Brizola, Getúlio e João.
Lá estão

Cervantes, Baudelaire e Platão,
Que sentados à mesma mesa,
Zunem ébrios a mesma canção.

Lá estão meus brinquedos de criança
Minha constante e infinda infância
Meu jogo de bola e o gol no portão.