Se eu tivesse agora que responder a esta pergunta, eu diria, quase que cometendo uma redundância inafiançável, que, como a balança do açougueiro mede a massa da carne, o imensurável simplesmente não pode ser mensurado. E diria mais: diria que a tentativa de objetivar em dados supostamente concretos os sentimentos humanos somente poderia (ou poderá) ser possível se pensarmos como Cézanne, que dizia poder pintar o cheiro de uma árvore. Captar, refletir, aprisionar, radiografar, dar forma estática ao fugidio é uma tarefa tão para-além da capacidade humana, e da sua ciência criatura, quanto tirar uma fotografia do vácuo.
Pois que, então, Rachel Stolf, com seus ruídos brancos, na busca poética pelo nada definitivo, me diz: cá está o nada, o vácuo, o esquecimento. Petroc Sesti é outro quem me apresenta o “perpétuo vácuo”, do mesmo modo que Simon e Garfunkel me cantam o Som do Silêncio. E, assim, Sartre me mostra a angústia, Dostoiévski o amargor dos homens supérfluos, e Ballard, com precisão cirúrgica, o vazio existencial do homem hipermoderno. E se tivesse agora que responder a tal pergunta, diria que é preciso apagar do computador os programas que combinam dados e vomitam estatísticas, fechar os olhos para ver o silêncio, tampar os ouvidos para ouvir o esquecimento e abrir bem os olhos para sentir o cheiro das árvores.