A imaginação vive à margem da Razão e da Realidade. E estar à margem é estar dentro, mas pelas beiradas, num ritmo diferente. Na margem, se segue o desaguar incessante do flúmem, suas marés, seu fluir, seu continuum; não se passa impune às cheias, nem às baixas, mas se é afetado de modo diferente: embora dentro, estar à margem permite ver em perspectiva; dentre pedras, terra e vegetação, o tempo passa em outra cronometragem. Nas margens do rio limpo se achegam o pescador em busca do alimento, o animal para matar a sede, as lavadeiras e as crianças com seus barcos de papel. Nas do rio poluído, se acumula o lixo. Por outro lado, são as margens que delimitam a largura do rio, no encontro da água com a terra. A imaginação dá a dimensão, a profundidade, o volume do real.